O Glamour de nosso Municipal Lítero Clube

14/04/2013 11:32

 

 

Por Redação in Foco

 

Nestas viagens fantásticas que faço voltando ao passado de nosso Mimoso do Sul, estou agora na década de 60 num sábado ensolarado de primavera, em frente ao Clube Municipal, dei alguns passos e parei… Por alguns instantes fiquei a olhar estes morros maravilhosos que circundam a cidade, olhei para os casarios, a linha férrea, o Rio Muqui, o jardim da praça… Enfim, para os mais interessantes lugares que minha visão podia alcançar, estava ali tranqüilo admirando nosso Mimoso do Sul, quando de repente  ouvi vozes e barulho de portas de carros se fechando, eram alguns rapazes e moças que retiravam alguns objetos dos interiores de dois automóveis ali estacionados, um Chevrolet Custon e uma camionete Fargo.

 

Um frenético movimento de entra e sai de pessoas nas dependências do clube me chamaram à atenção. Me aproximei e também fiz parte daquela turma, me recordo bem, o calor era forte e a tradicional camisa “Volta ao Mundo” da Valisier  colava na pele dos rapazes juntamente com o suor, devido ao trabalho naquela tarde. Ao entrar na repartição do Clube, tudo estava impecavelmente limpo e arrumado. Vasos, tripés com arranjos de plantas davam mais vida ao local, o chão com a tradicional cor grená reluzia um brilho sem igual, uma enorme passadeira ou tapete seguia da entrada até o início da escadaria, dali podia-se ver o bar do Clube, com muita organização e opções com vários tipos de bebidas nacionais e whiskys importados tais como: Royal Saluter, Crow Royal, Queen Ane e outros, mas minha intenção era seguir escada acima e chegar ao grande salão, e assim fiz… Mas algo aconteceu!  Fiquei hipnotizado em frente ao velho espelho que foi e é testemunha de muitos fantasmas do passado, que iam e vinha circulando a minha volta numa velocidade assustadora como num filme acelerado, não conseguia me mexer muito menos escapar de seu reflexo, fechei os olhos… Abaixei a cabeça prestando reverência a própria sentinela viva daquele lugar, e assim consegui voltar novamente a minha realidade e segui em frente.

 

Ao chegar ao grande salão de danças, o requinte, assim como a organização se faziam presentes, várias mesas com toalhas brancas com arranjos eram destaques. Flores artificiais nas cores, branco, cinza e pérola, eram cuidadosamente colocadas pelas hábeis mãos de Dona Dalva Ribeiro e Dona Diva para ornamentações dos enormes painéis colocados em posições estratégicas, cortinas aveludadas nas cores bege e vinho, com acabamentos e dobras especiais, davam um charme ao lugar, tudo estava sendo preparado para uma noite de muita alegria, requinte e sofisticação, e aquilo tudo chamava-se: “Municipal Lítero Clube”, e eu ali, presente naquela época, não poderia perder a oportunidade de ver um daqueles bailes famosos e inesquecíveis… Eu tinha tempo de sobra para me ocupar com alguma coisa, até o início do baile, resolvi então, descer as escadas, dei uma última olhada para trás, e aquela cena ficou marcada como uma fotografia em minha mente, os rapazes com o tradicional corte de cabelo daquela época  no melhor estilo Ted Boy (topete) e as garotas com calça pescador, sapatinho baixo, e aquela faixa grossa de pano na cabeça feito diadema, ensaiavam alguns passos de dança, e davam os últimos retoques por ali.

 

Então segui, e me retirei do clube, fui dar uma volta pela praça, vendo cada detalhe de como as coisas eram diferentes, a começar pelo jardim, que ficava no mesmo nível da rua, várias árvores da espécie “Ficos Benjamina”, muito bem podadas por sinal, em forma de pirâmides, balões, e quadriláteros embelezavam o lugar, uma infinidade de flores multicoloridas do tipo margaridas, rosas, dálias, beijos e begônias eram destaques, os bancos longos e os individuais, juntamente com o belo chafariz, e as luminárias faziam parte de todo o complexo da praça, tudo limpo, muito bem cuidado e respeitado. Resolvi olhar para os casarões, os Prédios Luíz XV, os outros em sua sequencia, do outro lado o prédio da prefeitura parecia menor, como era sábado estava fechado, continuei olhando pra lá, e pra cá…

 

E um nome escrito com letras grandes na lateral de uma parede bem próximo de onde mais tarde seria o Barnabé, me chamou a atenção, pronunciava-se “A Nova Morena”, então resolvi perguntar a um senhor que seguia a passos rápidos em direção a Rua da Pratinha, sobre que loja era aquela… Ele me respondeu: “Esta é uma loja que vende rendas, bordados, bijuterias, lãs  e uma enorme variedade dessas coisas, e seu proprietário chama-se Munir, que trabalha na loja com a sua esposa, e são pessoas muito bem relacionadas na cidade.” Bem, eu agradeci ao tal senhor, e é claro, perguntei pelo seu nome, e ele respondeu “Me chamo Veriano”, e foi-se com aquele par de sapados pretos brilhante e calça caqui… Dizendo “Boa Tarde”!

 

Dali, segui calçada afora até o bar Guarani, onde tomei um Grapette gelado que já existia, assim como Guaraná, Cruch, Mirinda, Mineirinho e é claro a estonteante Coca-Cola, fui até a esquina do bar, olhei para a ponte da Arca bem estreita com suas passarelas, uma de cada lado juntamente com as enormes luminárias em forma de cone, bem próximo dali uma placa da Shell anunciava a revenda  de derivados de petróleo e lavador de veículos do Sr. Joaquim Lopes Romero. É!… As coisas eram mesmo diferentes!

 

O tempo havia passado rápido, e já estava na hora do baile, não me perguntem como eu consegui aquele smoking, abotoaduras, gravata borboleta e tudo mais para ser o penetra número 1 daquele baile!!!

 

Na chegada, ainda do lado de fora, a iluminação do clube me impressionou, a variedade na tonalidades de luzes de seu interior era um espetáculo a parte, semelhante ao tom e mudanças de cor de nosso cinema. Fiquei surpreso com o número de automóveis e de casais elegantemente bem vestidos para a ocasião, com muito charme, beleza e glamour, e ali vi os casais: Getúlio Pires e Maninha, Giovani Guarçoni e Lúcia Helena Mignoni, Vanny Moreira e Cid Castro,  dentre outros…

 

Bem, e lá vou eu, seguindo junto aos convidados, a banda Cassino de Cevilha fazia pulsar todo o ambiente, chegando aos nossos ouvido sucessos de boleros, como “El Relógio”, e tango “Por una cabeça” de Carlos Gardel, precisa mais? Afinal, era o prenuncio de um grande baile, e a sociedade de Mimoso se fazia presente, dentre os ilustres convidados, podemos citar: Milton Vivas e Zéa Barreto, Kaliu Cafuri e Dona Maria, Dr. Hélio e Ailse Carrera, Mandalê Minassa e Helena, Willian Moreira e Carmem Garcia, e outros…

 

E o momento mais esperado foi anunciado: Rapazes e moças valsando ao som de “You Night Serenate” (Glen Miller), tudo na mais perfeita harmonia, uma mudança na iluminação com reflexos e brilhos faiscados provocados por um enorme globo de vidro giratório, parecia uma valsa na estrelas! O efeito visual era deslumbrante, alvo de olhares admirados de todos os presentes…  E o baile propriamente dito, entrou madrugada a dentro até o raiar do dia.

 

Bem, vale lembrar que após o final do baile tudo deveria ser arrumado novamente, para que no domingo a tarde como de costume o “Suarê” acontecesse. Sabe o que foi isso?

Pois bem, pergunte ao seu Pai, Mãe, Tio… Avô que fez parte disso tudo também… Aí já é outra história que prometo contar em outra ocasião.

 

 

 

 

 

 

 

 

Texto: Renato Pires Mofati